Stélio Valle

Stélio Valle

Nasceu Stélio Romero do Valle, na cidade de Fortaleza no dia 25 de maio de 1950 e faleceu em Fortaleza no dia 10 de janeiro de 2008. Além de músico era formado em Administração de Empresas. Teve canções registradas por intérpretes como Fagner, Nara Leão, Núbia Lafayete, Lúcio Ricardo, Ednardo, Fhátima Santos, Kátia Freitas e Paulo Rossglow. Participou da coordenação musical do LP duplo Massafeira, um marco na produção musical cearense na passagem da década de 1970 para a de 1980.

No dia 12 de janeiro de 2008 Dalwton Moura Reproduziu uma matéria publicada no "Diário do Nordeste". Leia abaixo:

"Pessoal do Ceará Lembranças de Stélio Valle"

Stélio Valle: da segunda turma do 'Pessoal' a destaque na Massafeira, o compositor deixou dois discos solo Parceiros e amigos de Stélio Valle, que se despediu na última quinta-feira, dividem lembranças sobre a vida e a obra do compositor que participou de importantes momentos da música cearense. Stélio Valle disse adeus. Celebrado pelos amigos, com direito a roda de violão, mesa de bar e a muitas lembranças do 'Stelinho' em um bate-papo que atravessou a madrugada, enquanto o corpo do músico era velado. Um dos principais protagonistas da turma que, em meados dos anos 70, foi apelidada de 'Novos Cearenses', em analogia aos Novos Baianos, ao formar uma segunda leva de cantores e compositores do 'Pessoal do Ceará'. Foram muitas as canções tecidas entre as incursões na noite de uma outra Fortaleza, berço da geração que partiu para recolocar o Ceará no mapa da música brasileira. Nascido Stélio Romero do Valle aos 25 de maio de 1950, o músico, também formado em administração, deixou três filhos. E a atual esposa, Simone, esperando o quarto, em sétimo mês de gestação. O falecimento do cantor e compositor foi marcado por uma ironia. O imóvel que abrigou o velório, na região central de Fortaleza, foi vendido por Stélio há alguns meses, para dar origem a uma funerária. Os amigos relatam que, na véspera da partida, o músico deixou claro o desejo de ser velado na casa, que pertencera à sua mãe.Parceiro de vários nomes da música cearense, como Alano Freitas, Augusto Pontes, Chico Pio, Fausto Nilo, Francis Vale, Gilberto Fonteles, Graco, Nertan Moreno, Olímpio Rocha e Sérgio Pinheiro, Stélio, que na juventude integrou a banda Os Diferentes, no embalo da Jovem Guarda, compunha principalmente melodias, buscando colaboradores para as letras. Teve canções registradas por intérpretes como Raimundo Fagner, Nara Leão, Nubia Lafayette, Lúcio Ricardo, Ednardo, Fhátima Santos, Kátia Freitas e Paulo Rossglow. Gravou dois discos solo autorais: o LP 'Brilho', de 1979, e o CD 'Ser feliz', de 1999.

Parceiros e histórias

Entre os colegas músicos, o destaque a virtudes - pessoais e musicais - de Stélio. 'Essa perda nos pegou de surpresa, embora a gente soubesse que ele estava muito abalado desde o falecimento da mãe dele, há poucos meses', testemunha o cantor e compositor Rodger Rogério, que ao lado de Stélio e de Petrúcio Maia atuou na coordenação musical do LP duplo Massafeira, lançado em 1980, como registro dos músicos reunidos no evento cultural idealizado por Ednardo e Augusto Pontes, um ano antes no TJA. 'Na semana passada estive com ele, conversamos. Era um grande amigo, muito dedicado à família também. Não chegamos a compor juntos, mas cantei músicas dele e tocamos juntos', diz Rodger. 'Como artista, ele era um cara transgressor, um artista na pureza da palavra mesmo. E eram interessantíssimas as harmonias dele'. No LP duplo da Massafeira, um registro histórico da música cearense, Stélio teve gravadas quatro de suas composições: 'O que foi que você viu' (parceria com Chico Pio e Nertan Moreno), 'Buenos Aires - Citroen' (com Sérgio Pinheiro), 'Jardim do olhar' (com Fausto Nilo) e 'Reisado' (com Graco e Augusto Pontes). 'Morei com ele no Rio, eu, ele e o (violonista Wilson) Cirino. Éramos companheiros de batalha, moramos juntos nos anos 70, viajamos muito... A Massafeira foi um dos nossos vários momentos de alegria', lembra Chico Pio, citando o último encontro com o parceiro.'Quinta-feira passada, toquei violão com ele, Nertan, Rodger Rogério. Gravamos um depoimento sobre a música cearense. Ele vai deixar uma lacuna muito forte no coração da música cearense', lamenta. 'Fico muito triste que tenha ido, mas com certeza contribuiu com muita música, muito amor e carinho que tinha com as pessoas.

"Diga aí, fracasso!'.

Com o cineasta e produtor cultural Francis Vale, Stélio Valle compôs um de seus grandes sucessos, 'Apaixonadamente', gravada por Raimundo Fagner (no disco homônimo de 1996), por Kátia Freitas e Rossé Sabadia (no disco 'Liberado', de 1989) e por Fhátima Santos, no CD coletivo 'No Ceará é Assim', produzido pela Secult em 1995, trazendo outra composição de Stélio: o rock 'Sorvete', com Chico Pio e Alano Freitas.'Nós até pensávamos que éramos irmãos. Com o mesmo sobrenome, né, brinca Francis Vale. 'Nos conhecemos há uns 35 anos, mais ou menos. O Stélio fez parte de uma geração que veio logo em seguida à primeira turma do Pessoal do Ceará. Eram 'Os Novos Cearenses', lembra o parceiro. 'A casa do (produtor cultural) Cláudio Pereira, na Beira-mar, era o ponto de encontro dessa turma que incluía o Stélio. Ele foi meu primeiro parceiro. Fizemos várias músicas, algumas morreram com ele. E 'Apaixonadamente' caiu no gosto do pessoal'. Lamentando que Stélio tenha partido aos 57 anos, 'quando ainda podia fazer tanta coisa', Francis lembra uma história curiosa relacionada ao amigo. 'Ele gostava muito de usar umas expressões. Chegava pra gente e falava: 'Diga aí, fracasso!'. Tanto ele usou essa frase que isso pegou, ficou na boca de todo mundo, e o Fagner acabou botando o nome de uma música dele como 'Fracassos'. Mas o Stélio dizia isso mais como naquela famosa saudação do pessoal de teatro: era no sentido oposto, de dar força, desejar sucesso'. O compositor e artista plástico Alano Freitas estima ter criado cerca de 20 canções em parceria com Stélio Valle, das quais nove foram gravadas. 'Começamos a sair e a fazer música juntos em 69, 70, por ali. As primeiras foram 'Frevo da rua', 'Sonhos' e 'A casa'. Lembro que fizemos 'Sorvete' brincando, em uma manhã de sábado, na casa do Cláudio Pereira', conta Alano. 'Muitas vezes a gente fazia juntos mesmo, cara a cara. Agora, muita coisa eu dei letra pra ele, mandei várias quando ele estava no Rio. Em outra música, 'Sentimentos mudos', pus a letra na última hora pra poder entrar no disco', relembra, situando o LP 'Brilho' como o primeiro lançamento independente de um cearense com alta qualidade de produção. 'Já o segundo disco dele não diz do talento que ele tinha. O Stélio conhecia bem harmonia, e aquele disco escondeu esse enorme talento dele', opina.

De Nara Leão a Luiza Tomé

Parceiro de Stélio em canções como 'Romance popular' (gravada por Nara Leão), 'Coração condenado' (registrada por Nubia Lafayette), 'Pé na terra' (registrada no LP 'Brilho') e 'Jardim do olhar / água' (no LP 'Massafeira'), Fausto Nilo faz coro ao ressaltar o caráter amistoso e a generosidade do músico. 'Conheci o Stélio no tempo da casa do Cláudio Pereira e convivi bastante com ele no Rio de Janeiro. Era um cara legal, musical, e uma pessoa legal, um ser humano mesmo', reverencia. 'Ele chegou a abrigar sete, oito pessoas na quitinete dele no Flamengo. Depois, morando em Copacabana, já casado, continuava recebendo as pessoas. Até a Luiza Tomé, quando chegou no Rio, morou um tempo no apartamento com ele'.Já a musa da bossa, Nara Leão, cruzou o caminho de Stélio por intermédio do próprio Fausto. 'Produzi com o Fagner um disco dela e levei muita gente pra conhecer a Nara. E o Stelinho também', recorda. 'O Stelinho tinha a liderança do que o pessoal da Beira-mar apelidou de Os Novos Cearenses, a segunda turma. Esse povo apareceu lá, todo mundo junto. Eles tinham a música deles, não era a nossa mais, havia outras referências', diferencia. 'Tocava bem violão, bossa nova... Era muito musical. E também me chamava com o 'E aí, fracasso' (risos)...

'Pra gente, ele era o Stelinho'.

"Ele era um cara transgressor, um artista na pureza da palavra mesmo" (Rodger Rogério, Cantor e compositor)
"Moramos juntos nos anos 70. A Massafeira foi um dos momentos de alegria" (Chico Pio, Cantor e compositor)
"Foi meu primeiro parceiro. 'Apaixonadamente' caiu no gosto do pessoal". (Francis Vale, Cineasta e compositor)
"Muitas vezes a gente fazia música juntos, cara a cara. Ou eu mandava letras" (Alano Freitas, Compositor e artista plástico)"
O Stelinho tinha a liderança do que o pessoal apelidou de Os Novos Cearenses" (Fausto Nilo Cantor, compositor e arquiteto)"

Dalwton Moura
Repórter

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